Texto do fotográfo J. R. Duran publicado na revista Trip.
Nasceu, há alguns meses, o Airbus A380. O maior avião do mundo. O primeiro deles está voando por aí, se exibindo à procura de compradores. Tem capacidade para transportar mais de 500 passageiros no seu umbigo. O próximo presidente da Anac tem sorte de que nenhum aeroporto brasileiro tem condições de receber o aparelho, porque senão a confusão estaria garantida nas alfândegas da nossa terra, que já sofrem para absorver os passageiros que descem de aviões mais normais e menos pretensiosos.
Mas, enfim, a notícia não é essa. A notícia é que um seque árabe comprou um desses aparelhos para ele voar… sozinho. Em lugar das 500 cabeças de passageiros/gado apertados que o avião transportaria normalmente, o Airbus do xeque vai transportar apenas 68 passageiros. Todos instalados em cabines individuais, com chuveiros à disposição, além de uma mesa de jantar para 24 pessoas (vão ter que fazer três turnos para comer, tipo: “Você é do primeiro? Não, não, sou do terceiro grupo, gosto mais de comida bem passada…”). Bem, além dessas excentricidades (como se um avião de 72m de comprimento não fosse suficiente excêntrico), disporá de auditório e (atenção!) uma raia de natação de 18m (18m divididos por 68 passageiros dá uma média de 25cm por pessoa, se todos quiserem mergulhar ao mesmo tempo; uma suruba aérea que nem Oscar Maroni poderia imaginar).
Nem cartão de crédito resolve!
É luxo? Não a suruba, o avião em si, quero deixar bem claro. Bem, como diria o Didi, da turma dos Trapalhões: “Aí vareia, né?” Talvez o avião do xeque seja mais excentricidade que luxo - aquele luxo associado às boas coisas da vida, que por um passe de mágica aliviarão todas as nossas infelicidades. Mas, pergunto, do que serve saber onde fica o bar do Pedro, em Natal, que oferece aos seus convidados a melhor manteiga de garrafa do mundo, se você não tem tempo de ir até lá e não pode ficar sentado no banco de madeira esperand, com os pés na areia, enquanto não chega o prato de pitu? De que serve ter um iate ancorado no porto de Saint-Tropez, se você tem de contemplar sua bela namorada se divertindo no deck, que fica entre a piscina e a pequena pista de pouso do helicóptero, enquanto você fica grudado no celular falando com o outro lado do mundo? De que serve ter uma Ferrari na garagem (vermelha, amarela…), se você não tem tempo de dirigi-la (ou, o que é pior, não poder passar de 80 km/h na estrada de Santos)?
A resposta, meu caro, It’s blowing in the wind, como diria o senhor Dylan. E o vento que foge entre as copas das árvores e escorre como a fina areia entre os dedos das mãos me diz que, para algumas coisas, existe o dinheiro, para outras, o Mastercard - mas para o que importa, mesmo, só o tempopode ser moeda.
O tempo, meu caro, é o único luxo que você não pode comprar. O tempo, meu caro, seu tempo, é a única coisa que nunca vai te pertencer. As pessoas adoram uma vela despregada ao vento, mas esquecem que o que faz o barco se deslocar sobre a água não é a vela enfurnada: é o vento que não se vê (essa não é minha nem de Paulo Coelho, é de Platão já faz tempo). Luxo, para mim, não é viajar em primeira classe. É poder viajar quando quiser, na hora que quiser (essa é minha, mas agora preciso ir, porque não tenho tempo a perder). Só quero saber do que pode dar certo (essa é do Torquato Neto)
Nasceu, há alguns meses, o Airbus A380. O maior avião do mundo. O primeiro deles está voando por aí, se exibindo à procura de compradores. Tem capacidade para transportar mais de 500 passageiros no seu umbigo. O próximo presidente da Anac tem sorte de que nenhum aeroporto brasileiro tem condições de receber o aparelho, porque senão a confusão estaria garantida nas alfândegas da nossa terra, que já sofrem para absorver os passageiros que descem de aviões mais normais e menos pretensiosos.
Mas, enfim, a notícia não é essa. A notícia é que um seque árabe comprou um desses aparelhos para ele voar… sozinho. Em lugar das 500 cabeças de passageiros/gado apertados que o avião transportaria normalmente, o Airbus do xeque vai transportar apenas 68 passageiros. Todos instalados em cabines individuais, com chuveiros à disposição, além de uma mesa de jantar para 24 pessoas (vão ter que fazer três turnos para comer, tipo: “Você é do primeiro? Não, não, sou do terceiro grupo, gosto mais de comida bem passada…”). Bem, além dessas excentricidades (como se um avião de 72m de comprimento não fosse suficiente excêntrico), disporá de auditório e (atenção!) uma raia de natação de 18m (18m divididos por 68 passageiros dá uma média de 25cm por pessoa, se todos quiserem mergulhar ao mesmo tempo; uma suruba aérea que nem Oscar Maroni poderia imaginar).
Nem cartão de crédito resolve!
É luxo? Não a suruba, o avião em si, quero deixar bem claro. Bem, como diria o Didi, da turma dos Trapalhões: “Aí vareia, né?” Talvez o avião do xeque seja mais excentricidade que luxo - aquele luxo associado às boas coisas da vida, que por um passe de mágica aliviarão todas as nossas infelicidades. Mas, pergunto, do que serve saber onde fica o bar do Pedro, em Natal, que oferece aos seus convidados a melhor manteiga de garrafa do mundo, se você não tem tempo de ir até lá e não pode ficar sentado no banco de madeira esperand, com os pés na areia, enquanto não chega o prato de pitu? De que serve ter um iate ancorado no porto de Saint-Tropez, se você tem de contemplar sua bela namorada se divertindo no deck, que fica entre a piscina e a pequena pista de pouso do helicóptero, enquanto você fica grudado no celular falando com o outro lado do mundo? De que serve ter uma Ferrari na garagem (vermelha, amarela…), se você não tem tempo de dirigi-la (ou, o que é pior, não poder passar de 80 km/h na estrada de Santos)?
A resposta, meu caro, It’s blowing in the wind, como diria o senhor Dylan. E o vento que foge entre as copas das árvores e escorre como a fina areia entre os dedos das mãos me diz que, para algumas coisas, existe o dinheiro, para outras, o Mastercard - mas para o que importa, mesmo, só o tempopode ser moeda.
O tempo, meu caro, é o único luxo que você não pode comprar. O tempo, meu caro, seu tempo, é a única coisa que nunca vai te pertencer. As pessoas adoram uma vela despregada ao vento, mas esquecem que o que faz o barco se deslocar sobre a água não é a vela enfurnada: é o vento que não se vê (essa não é minha nem de Paulo Coelho, é de Platão já faz tempo). Luxo, para mim, não é viajar em primeira classe. É poder viajar quando quiser, na hora que quiser (essa é minha, mas agora preciso ir, porque não tenho tempo a perder). Só quero saber do que pode dar certo (essa é do Torquato Neto)
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